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SINOPSE

     O equilíbrio entre os mundos visível e invisível foi fatalmente alterado. Os humanos estão sentindo as consequências, apesar de não terem nenhuma consciência de todos os Mundos que os cercam. Espíritos Ancestres protetores estão atentos e têm numa única garota a esperança para cessar os ataques constantes de Eguns, espíritos perdidos entre os mundos que estão causando pesadelos, insônia e perda de memória nas pessoas.

     Luz Pereira da Silva é uma menina simples, moradora da favela na cidade grande, aluna regular e amiga fiel que se sente invisível. Ela acredita que não tem nada de especial, mas está errada! Um misterioso dom de repente se manifesta e sonhos constantes exigem que Luz encontre companheiros de jornada e parta em uma missão: buscar a poderosa orixá Oyá, rainha das tempestades e Senhora dos Eguns.

LEIA UM TRECHINHO

 

         Os pés frágeis estavam mergulhados em lama cinza, um cinza escuro e morno, normalmente isso lhe daria nojo, mas agora, em meio aqueles troncos retorcidos e aquela neblina doce ela se sentia em paz, uma paz que vinha pelos pés descalços. Não tinha medo, não se sentia perdida embora não fizesse a menor ideia de onde estava. Observou com calma os troncos retorcidos e encontrou alguns pontinhos brilhantes, eram caranguejos, mas tão bonitos! Alguns com a barriga amarela, outros vermelha, alguns com a casca verde esmeralda e azul celeste. Eram fofos! De repente todos olharam para ela, com aqueles olhinhos negros e com barulhinhos de pinças passaram a se mover rapidamente para frente. Ela os seguiu.

            Uma garoa fina e leve começou a molhar seus cabelos volumosos, pixaim como dizia sua mãe. As árvores foram ficando mais escassas e a neblina baixando, a lama ainda pelos tornozelos começou a esfriar. Ouviu-se um som rouco e alto, que ela não conseguia explicar de tão terrível.

Aquele som sim, lhe deu calafrios. Mais tarde ela se lembraria de onde tinha ouvido algo parecido, a única vez que foi ao jardim zoológico viu um urso marrom de pé nas patas traseiras que urrava daquela maneira, mas com aquele urso ela achou graça, aquilo não tinha a menor graça e era bem mais aterrador.

        Antes que tudo se tornasse medonho e desconfortável, ela avistou, pouco a sua frente, uma senhora. Entre folhas verdes cumpridas, de onde saiam lírios brancos perfumados, sentada num banquinho de madeira, vestida de branco e envolta numa espécie de xale de seda roxo, no pescoço um colar de contas e um pano branco na cabeça, a senhora, de pele mais escura do que a sua mamãe e sorriso gentil e reluzente entre os lábios grossos, chamou-a docemente:

         - Não dê ouvidos a eles filha, não podem vir até aqui nos fazer mal, pelo menos não por enquanto. – E antes que a menina pudesse indagar sobre quem ela estava falando, a bondosa senhora prosseguiu - Bem-vinda, mais uma vez, Luz. Sente-se aqui no meu colo. Precisamos de sua ajuda querida. Você precisa encontrar um filho da mata, um filho da justiça, um filho do mangue e um filho da beleza. Por favor, querida! Precisamos do seu Axé.

          E a menina, sentada confortavelmente sobre a coxa da senhora bondosa, lhe dizia que não sabia do que ela estava falando, que tudo parecia muito lógico e normal ali, mas logo não faria sentido nenhum, como todas as outras vezes. Um beicinho se formava e ela sentia vontade de chorar. Mas não chorava, aquele colo era tão bom! A vontade passava logo! Mesmo assim a velha senhora a mimava com graciosidade, achando bonito que seu destino estivesse nas mãos daquela bonequinha graciosa, tão magrinha quanto as árvores retorcidas do mangue, mas igualmente resistente e necessária para o equilíbrio natural.

 

- Luz! Luz! Vamô menina!

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