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SOBRE O NASCIMENTO DESTE LIVRO

“Para mim, a coisa melhor no Brasil é essa unidade de contrastes”

(Ariano Suassuna)

 

    A concepção desta obra veio de um conjunto de experiências, primeiro como professora atuante entre pré-adolescentes, adolescentes e jovens em contato constante com os preconceitos forjados pela ignorância de nossa origem cultural. Preconceitos que impediam a formação total do indivíduo como um cidadão ético e até o mergulhavam em uma situação constante de não identificação cultural com seu meio e que, mais tarde, ao ser apresentado a suas origens culturais se transformavam em auto preconceito. 

       Segundo da experiência de ser filha de santo e vivendo constantemente os resultados do preconceito social. Muitas pessoas que criticam as religiões afro brasileiras abertamente acabam muitas vezes por visitar os terreiros, além da prática comum de buscar benzimentos e simpatias, atividades que ortodoxamente seriam condenadas pelo catolicismo. Ainda assim, todo esse sincretismo faz parte da formação religiosa do nosso povo e consequentemente todas essas manifestações devem ser valorizadas como manifestação cultural.

          E por último, mas não menos importante, assistir a mídia e a política, ora propositadamente, ora por incapacidade, fracassarem na valorização da cultura nacional e na educação sobre diversidade e ética.

Somando-se todas as três faces das experiências acima descritas, foi despertado em mim o desejo cada vez maior e latente de produzir algo que estimulasse aos jovens usar seu próprio cotidiano, sua própria imagem e herança cultural como fonte de entretenimento. Cito o bispo Hermes Fernandes em seu website “Você iria ao cinema prestigiar um filme intitulado ‘Xangô de Ife’, onde um personagem negro, portando um machado de dois gumes, vindo de Aruanda, controla os raios e os trovões? Certamente que um filme desses seria execrado por muitos cristãos. Mas, se o filme se chama Thor, deus nórdico dos trovões, a quem se sacrificavam homens, mulheres e crianças, pendurando-os em carvalhos, protagonizado por um louro bonitão de olhos azuis, é assistido sem o menor peso de consciência. Enquanto para Xangô são sacrificados pombos e galinhas de angola, para Thor eram sacrificados seres humanos. ”

         Este livro almeja ser ferramenta para que a resposta seja sim.

         Sim, num futuro, o mais breve possível, crianças e jovens se interessem por estes heróis com a consciência de que estes sim fazem parte diretamente de sua realidade e suas origens e que são personagens de uma rica formação cultural e não somente figuras religiosas. 

        O objetivo desta obra é fornecer a crianças e jovens em formação material lúdico inspirado em sua própria herança cultural e não mais na herança grega, romana ou nórdica.

       Povoar o imaginário de nossos jovens com heróis africanos e indígenas se faz urgente a fim de coibir a demonização de nossas origens culturais.

      Demonizar expressões de cultura e fé de um povo é eticamente destrutivo para a formação de um indivíduo, é um crime contra sua identidade social e nacional e desrespeito ao patrimônio cultural de uma nação.

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